Como este não é um blog sobre História o interessante desse livro é que ele fala sobre as representações que o conflito teve tanto durante quanto após o conflito, representações que pelas próprias características geopolíticas que se estabeleceram após a guerra acabaram moldando a visão das pessoas de acordo com determinados interesses e ideologias. Como disse certa vez George Orwell: "A história é escrita pelos vencedores". Entre as representações na Imagem, na Literatura e na História que o autor apresenta a que nos interessa aqui são as mensagens que foram transmitidas através do Cinema que na época já era um importante meio de comunicação de massa, reconhecido pelos líderes dos países envolvidos no conflito que fizeram uso intensivo de seu poder de persuasão e convencimento das multidões. Davies faz ainda um alerta sobre o impacto do Cinema na formação das opiniões:
"O melhor dos livros de História como Stalingrado, de Antony Beevor, ou Armagedon, de Max Hastings, será lido por dezenas de milhares ou, no máximo, centenas de milhares. O pior dos filmes de Hollywood, como U-571 - a batalha do Atlântico ou O resgate do soldado Ryan, que estão repletos de suposições históricas duvidosas, será visto por milhões."
Alguns trechos interessantes:
"Com muito poucas exceções, o gênero filme de guerra foi devotado a celebrações da causa aliada e, desse modo, à presumida superioridade das forças aliadas e dos objetivos de guerra aliados. (...) À medida que o tempo passou e Hollywood esquentou as turbinas, a tendência aos exageros patrióticos desaguou quase que imperceptivelmente em falsificações descaradas."
"A grande maioria dos filmes abordava quatro ou cinco temas fixos: a guerra aérea, a Batalha do Atlântico, a campanha no Norte da África, os ataques de soldados e os campos de prisioneiros de guerra. E o Exército Vermelho não aparecia em nenhum deles. Quando o tema central da guerra continental despontava, em filmes como O mais longo dos dias ou Batalhas das Ardenas, limitava-se a exclusivamente aos combates na Europa ocidental. Nenhum filme importante jamais foi feito sobre a mais decisiva batalha da guerra, em Kursk — talvez porque não houvesse nenhum americano envolvido."
"As produções de maior qualidade sem dúvida não apareceram no Ocidente. Apesar de todo o seu dinheiro e da ausência de censura formal, Hollywood simplesmente não conseguiu competir em termos de sensibilidade humana e sofisticação política."
"O cinema jamais produzirá um relato da Segunda Guerra Mundial completo ou definitivo. Ele é bom para dar relevo a episódios, para dramatizar ações em pequena escala e para interpretar os dilemas e idiossincrasias de personalidades específicas. Mas parece perder sua força de maneira proporcional ao tamanho do tema. Uma batalha, uma campanha ou um general podem ser convincentemente abordados. Mas O mais longo dos dias é a maior amplitude que o meio cinematográfico pode dar conta. E houve 2.076 desses dias entre 1º de setembro de 1939 e 9 de maio de 1945. Pelo menos até agora, nenhum diretor encontrou uma maneira satisfatória de abordar a Frente Oriental e a Frente Ocidental em uma só tela. Contudo, a relação entre as duas fornece a chave de como a guerra foi vencida e perdida."
Sobre Cinema o autor traz duas interessantes listas de filmes divididos em contemporâneos e posteriores ao conflito. Nos filmes feitos durante a II Guerra, Davies faz uma outra distinção quanto a fonte do material a ser trabalhado para atingir o objetivo: História - Frente Civil - Ideologia. Filmes de História utilizavam fatos históricos para mobilizar a população em torno do esforço de guerra ou mesmo distrair da realidade; Frente Civil criava histórias com o mesmo objetivo de mobilização e os filmes de Ideologia procuravam transmitir as idéias, visões sobre determinado inimigo ou situação. Para quem gosta do tema e mesmo para aqueles que desejam se aprofundar no assunto das representações da II Guerra Mundial recomendo a leitura do livro. Vale realmente cada página. Vamos aos filmes, colocados em ordem cronológica [clique nos títulos]:
HISTÓRIA
1938. Alexander Nevsky (Sergei M. Eisenstein)
1940. Das herz der Königin (Carl Froelich)
1943. Cinco covas no Egito (Billy Wilder)
1943. As Aventuras do Barão Münchausen (Josef von Báky)
1943. Untel père et fils (Julien Duvivier)
1943. Ivan, o terrível - Parte I (Sergei M. Eisenstein)
1944. Henrique V (Laurence Olivier)
1945. Kolberg (Veit Harlan)
1946. Ivan, o terrível - Parte II (S. M. Eisenstein - M. Filimonova)
FRENTE CIVIL
1940. London can take it (Humphrey Jennings - Harry Watt)
1941. Love on the dole (John Baxter)
1942. Quarenta e oito horas (Alberto Cavalcanti)
1942. Rosa de esperança (William Wyler)
1943. Battle for music (Donald Taylor)
1944. A canterbury tale (Michael Powell - Emeric Pressburger)
1944. Raduga (Mark Donskoy)
1945. A diary for Timothy (Humphrey Jennings)
IDEOLOGIA
1940. O eterno judeu (Fritz Hippler)
1940. O judeu Süss (Veit Harlan)
1941. Churchill's island (Stuart Legg)
1942. Defesa de Moscou (Ilya Kopalin - Leonid Varlamov)
1942. Why we fight (Frank Capra)
1943. Desert victory (David MacDonald - Roy Boulting)
1943. Missão em Moscou (Michael Curtiz)
1945. The true glory (Garson Kanin - Carol Reed)
1945. Here is Germany (Frank Capra)
1971. Osvobojdenie: napravleniie glavnogo udara (Yuri Ozerov)
Uma seleção de filmes de Guerra no pós-guerra [clique nos títulos]:
1951. A raposa do deserto (Henry Hathaway)
1952. Angels one five (George More O'Ferrall)
1953. The cruel sea (Charles Frend)
1953. Ratos do deserto (Robert Wise)
1954. Labaredas do inferno (Michael Anderson)
1954. Geração (Andrzej Wajda)
1955. Os sobreviventes (José Ferrer)
1955. Escapando do inferno (Guy Hamilton)
1956. O ceú ao seu alcance (Lewis Gilbert)
1957. Kanal (Andrzej Wajda)
1957. Quando voam as cegonhas (Mikheil Kalatozishvili)
1958. A retirada de Dunquerque (Leslie Norman)
1958. Cinzas e diamantes (Andrzej Wajda)
1959. Orzel (Leonard Buczkowski)
1960. Afundem o Bismarck! (Lewis Gilbert)
1961. Os doze condenados (Robert Aldrich)
1961. Os canhões de Navarone (J. Lee Thompson)
1961. Christoe nebo (Grigori Chuckrai)
1962. O mais longo dos dias (Ken Annakin)
1963. Fugindo do inferno (John Sturges)
1965. Batalha das Ardenas (Ken Annakin)
1968. O desafio das águias (Brian G. Hutton)
1968. Sullivan's marauders (Armando Crispino)
1969. O exército das sombras (Jean-Pierre Melville )
1969. A batalha britânica (Guy Hamilton)
1970. Patton - rebelde ou herói (Franklin J. Schaffner)
1977. Uma ponte longe demais (Richard Attenborough)
1977. A cruz de ferro (Sam Peckinpah)
1981. O barco - inferno no mar (Wolfgang Petersen)
1985. Vá e veja (Elem Klimov)
1990. As 200 crianças do Dr. Korczak (Andrzej Wajda)
1989. Talvisota / The winter war (Pekka Parikka)
1993. A lista de Schindler (Steven Spielberg)
1993. Stalingrado - a batalha final (Joseph Vilsmaier)
1993. O resgate do soldado Ryan (Steven Spielberg)
1999. Rukajarven tie / Ambush (Olli Saarela)
2000. U-571 - a batalha do Atlântico (Jonathan Mostow)
2001. O capitão Corelli (John Madden)
2001. Círculo de fogo (Jean-Jacques Annaud)
2001. O pianista (Roman Polanski)
2003. Letters from the dead (Ari Taub)
2004. Guerra sangrenta (Ari Taub)
2004. A queda! As últimas horas de Hitler (Oliver Hirschbiegel)
Outras produções voltadas para a televisão [clique nos títulos]:
Quatro tripulantes de um tanque e um cachorro (1966 - 1970)
The world at war (1973)
A execução do soldado Slovik (Lamont Johnson, 1974)
Holocausto (Marvin J. Chomsky, 1978)
Quando os bravos se calam (John Irvin, 1998)
Band of brothers (2001)
De um modo geral o autor afirma que o Cinema e todas as outras representações foram e são utilizadas como forma de propaganda para se criar uma imagem positiva de si mesmos e negativa dos adversários, dando brilho e grandiosidade as suas ações, construindo heróis ao mesmo tempo em que trata negativamente os "inimigos" e esconde seus próprios defeitos e atos menos admiráveis. Mesmo a mensagem sendo trabalhada de forma sutil ou não, é difícil a verdade pura e simples ser alcançada nessas representações até porque talvez nem seja desejada. De qualquer forma o conhecimento através do estudo é o melhor meio de se chegar a verdade dos fatos.
Livraria Cultura
Livraria Saraiva
Lojas Americanas
Submarino
Mais filmes da II Guerra Mundial em:
> Revista GRANDES GUERRAS - Os 100 melhores filmes de guerra de todos os tempos - II Guerra Mundial
> Os 5 melhores filmes de Guerra por Quentin Tarantino
Veja também outros bons filmes sobre o tema posteriores a produção do livro:
Os falsários (Stefan Ruzowitzky, 2007)
Katyn (Andrzej Wajda, 2007)
Milagre em St. Anna (Spike Lee, 2008)
O menino do pijama listrado (Mark Herman, 2008)
Um ato de liberdade (Edward Zwick, 2008)
Um homem bom (Vicente Amorim, 2008)
O leitor (Stephen Daldry, 2008)
Operação Valquíria (Bryan Singer, 2009)
E já que o autor também abriu espaço para a Televisão vou destacar algumas outras boas séries que fizeram sucesso neste meio abordando o tema da II Guerra Mundial. Vamos aos títulos:
Combate! (1962 - 1967)
Guerra, sombra e água fresca (1965 - 1971)
Ratos do deserto (1966 - 1968)
Os guerrilheiros / Comandos de Garrison (1967 - 1968)
Demônios do ar (1976 - 1978)
The Pacific (2010)
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