A revista Preview em sua 18ª edição de março de 2011 traz um ensaio sobre o gênero Western assinado por Roberto Pujol destacandoos grandes clássicos que fizeram a história deste estilo que agora ressurge com a refilmagem de Bravura indômita dos irmãos Coen.
De tempos em tempos, Hollywood arranja um jeito de ressucitar o western, um dos gêneros mais marcantes da história do cinema.
Houve um tempo em que os filmes de faroeste e toda a mitologia criada em torno deles dominavam o imaginário popular. Cativavam não apenas os americanos, mas qualquer indivíduo que buscasse por um divertimento sem compromissos, com muita ação, nenhuma neurose e um desfecho em que o bem prevalecia sobre o mal. Simples assim.
(...)
O tempo foi passando e, tal qual o lendário pistoleiro que viveu seus dias de glória e depois conheceu a decadência, o western foi sendo jogado de lado., desprezado, esquecido, Mas não morreu. Quando menos se espera alguém cisma em trazê-lo de volta às telas, ainda que remexido, atualizado ou reinventado. (...) Vem sendo assim desde que o gênero começou a decair lenta e progressivamente no gosto popular, a partir do início dos anos 60.
A ORIGEM
Em 1903, quando o cinema ainda engatinhava, um sujeito chamado Edwin S. Porter rodou uma aventura nas imediações de uma estrada de ferro de Nova Jersey, narrando uma história cheia de ação ambientada no distante Oeste americano (far west).
O grande roubo do trem (Edwin S. Porter, 1903)
Surgia assim o primeiro exemplar de um tipo de filme que seria sabiamente definido como "o cinema americano por excelência". (...) Com o tempo, o cinema ficou ainda mais divertido. Ganhou-se mais tempo para se desenvolvera trama e os orçamentos aumentaram. Surgiram os primeiros astros (como Tom Mix), o primeiro western sonoro
No velho Arizona (Irving Cummings, 1928)
, diretores especialistas como Henry King, Cecil B. DeMille, King Vidor e um certo John Ford, que se tornaria o grande mestre da turma, autor de obras antológicas como
No tempo das diligências (John Ford, 1939)
, filme seminal em que ele firmaria de vez a parceria (que durou décadas) com John Wayne
A paixão dos fortes (John Ford, 1946)
Rastros de ódio (John Ford, 1956)
O homem que matou o facínora (John Ford, 1962)
Durante seu perído áureo o gênero esteve muito bem servido. À frente das câmeras John Wayne, Gary Cooper, Gregory Peck, Henry Fonda, James Stewart, Tyrone Power, Randolph Scott, entre outros, mandavam bem. Atrá delas, gênios do cinema se apuravam para transformar um gênero popular em arte: John Ford, Howard Hawks, Nicholas Ray, George Stevens, Henry Hathaway, Fritz Lang... Grandes talentos, grandes filmes.
A marca do Zorro (Rouben Mamoulian, 1940)
Consciências mortas (William A. Wellman, 1943)
O matador (Henry King, 1950)
Flechas de fogo (Delmer Daves, 1950)
Matar ou morrer (Fred Zinnemann, 1952)
Os brutos também amam (George Stevens, 1953)
Johnny Guitar (Nicholas Ray, 1954)
Onde começa o inferno (Howard Hawks, 1959)
Audazes e malditos (John Ford, 1960)
Pistoleiros do entardecer (Sam Peckinpah, 1962)
Crepúsculo de uma raça (John Ford, 1964)
NOVO IMPULSO
Quando Hollywood definitivamente virou as costas para o gênero, ele ressurgiu de maneira surpreendente no Velho Continente, por meio da parceria improvável do cineasta italiano Sergio Leone com o então pouco conhecido Clint Eastwood, que havia ido buscar seu espaço em solo europeu. Contando com a inestimável colaboração de Ennio Morricone e suas marcantes trilhas musicais , a dupla realizou três obras-primas:
Por um punhado de dólares (Sergio Leone, 1964)
Por uns dólares a mais (Sergio Leone, 1965)
Três homens em conflito (Sergio Leone, 1966)
e inaugurou um sub-gênero, o spaghetti western, que renderia muitos sucessos:
O dólar furado (Giorgio Ferroni, 1965)
Django (Sergio Corbucci, 1966)
, poucos grandes filmes como:
Era uma vez no Oeste (Sergio Leone, 1968)
Quando explode a vingança (Sergio Leone, 1971)
e muita porcaria.
O sucesso dos genéricos italianos repercutiu forte em Hollywood e em 1969 o gênero voltaria à moda em sua terra natal com:
Os Profissionais (Richard Brooks, 1966)
Hombre (Martin Ritt, 1967)
Era uma vez no Oeste (Sergio Leone, 1968)
Bravura indômita (Henry Hathaway, 1969)
Meu ódio será sua herança (Sam Peckinpah, 1969)
Butch Cassidy e Sundance Kid (George Roy Hill, 1969)
RESSURGIMENTO
Em busca de novos caminhos, o faroeste abordou temas políticos e sociais importantes como linchamento e pena de morte (Consciências mortas), macarthismo (Matar ou morrer), racismo (Audazes e malditos) e soube fazer um mea-culpaao mostrar o lado dos indios (Flechas de fogo, Crepúsculo de uma raça, Um homem chamado cavalo).
Um homem chamado cavalo (Elliot Silverstein, 1970)
Pequeno grande homem (Arthur Penn, 1970)
Quando os homens são homens (Robert Altman, 1971)
Oeste selvagem (Robert Altman, 1976)
Celebridades doVelho Oeste como Buffalo Bill, General Custer, Billy the Kid, Daniel Boone, Jesse James, Wyatt Earp, Doc Hollyday, entre muitos outros, ganharam cinebiografias, e acontecimentos marcantes como as batalhas do Álamo e Little Big Horn, o duelo no O.K. Corral e a saga dos pioneiros ganharam 'n' versões para a tela grande. Em busca de novos horizontes Hollywood produziu faroestes cômicos:
A série Trinity:
Trinity - A colina dos homens maus (Giuseppe Colizzi, 1969)
Trinity é o meu nome (Enzo Barboni, 1970)
Trinity ainda é o meu nome (Enzo Barboni, 1971)
Trinity e seus companheiros (Damiano Damiani, 1975)
-
Banzé no Oeste (Mel Brooks, 1974)
, faroestes musicais:
Dívida de sangue (Elliot Silverstein, 1965)
Ardida como pimenta (David Butler, 1953)
, faroestes animados:
Um conto americano - Fievel vai para o Oeste (Phil Nibbelink - Simon Wells, 1991)
, faroeste de ficção:
Westworld - Onde ninguém tem alma (Michael Crichton, 1973)
De volta para o futuro III (Robert Zemeckis, 1990)
Cowboys & Aliens (Jon Favreau, 2011)
, faroestes ecológicos:
Mais forte que a vingança (Sydney Pollack, 1972)
Quando faltou criatividade aos roteiristas americanos, o jeito foi buscar ajuda no cinema japonês, adaptando os clássicos de Akira Kurosawa. Os sete samurais (1954) foi refeito como:
Sete homens e um destino (John Sturges, 1960)
e Rashomon (1950) virou:
Quatro confissões (Martin Ritt, 1964)
Está mais do que provado que o western necessita de um sucesso de crítica e bilheteria para sair de seus perídos de coma, um filme especial que funcione como desfibrilador potente, capaz de ressucitar o gênero e torná-lo ativo por algum tempo. Aconteceu com:
Butch Cassidy e Sundance Kid (George Roy Hill, 1969)
nos anos 70, e com:
Dança com lobos (Kevin Costner, 1990)
Os imperdoáveis (Clint Eastwood, 1992)
nos anos 90.
Nos anos 80, quem deveria cumprir esse papel era
O portal do paraíso (Michael Cimino, 1980)
Cimino estourou bonito o orçamento com uma série de caprichos e sua obrafaraônica tornou-se o mais desastroso custo-benefício da história do cinema, recuperando apenas US$ 3 milhões dos US$ 44 milhões investidos (valores da época).
Espera-se que o sucesso de crítica e bilheteria de
Bravura indômita (Ethan Coen - Joel Coen, 2010)
ajude o western a sair do limbo.
Revista Preview no Twitter
Nenhum comentário:
Postar um comentário